domingo, 19 de setembro de 2010

Cardapio dos Quilombolas Livres de Agrotoxicos

Você já comeu uma buchada de galinha? Tudo bem, então farinha de milho orgânica? E que tal um prato brasilianíssimo de feijão e arroz? Mas só vale se forem agroecológicos. Ou seja, livres da cultura dos agrotóxicos e da mutação genética. Pois saiba que essas iguarias "exóticas" são itens da tradicional culinária das comunidades quilombolas no semi-árido do estado. Uma parte desse patrimônio imaterial, o dos saberes da comida construídos por grupos de descendentes de ex-escravos negros, vem sendo resgatado pelo Governo Federal em parceria com o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), com sede no Recife, que executa o programa, e estudiosos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Recentemente a comunidade de Jatobá II, em Cabrobó (Sertão do São Francisco), a 563 km do Recife, foi a segunda a ser contemplada pelo banco de sementes do projeto Semente Crioula. Remanescentes dos quilombos na Comunidade do Feijão, em Mirandiba, no Sertão Central, já contam com o banco e já começaram a produzir culturas de feijão e milho com sementes "crioulas", indentificadas e reintroduzidas à agricultura dessas populações por técnicos da Embrapa. Em mais três comunidades, Contendas, Conceição das Crioulas e Santana, situadas na cidade sertaneja de Salgueiro, o projeto já passou da fase de pesquisa e devem receber a implantação dos bancos em breve.

O Semente Crioula recebe o apoio de associações nas cinco comunidades quilombolas. O diagnóstico das variedades tradicionais das sementes (feijão, milho, algodão, arroz, entre outras) começou há três anos depois que verificou que a cultura de plantio nessas comunidades corria o risco de se perder pela perda de sementes típicas desses locais. O objetivo do projeto não é só garantir o resgate histórico de resistência dos quilombolas mas também fazer com que os descendentes possam ser autosuficentes no processo de plantio, colheita e comercialização daquilo que produzem.

"Havia um estrangulamento da segurança alimentar nessas comunidades com a ausência de sementes. Alguns dosintegrantes mais velhos guardavam sementes em garrafas e latão de zinco, e o modo de produção foi se perpetuando. Mas nem todos faziam isso em quantidade suficiente e, com a falta de chuvas no semi-árido, a agricultura se perdia", relata André Araripe, do CCLF e coordenador executivo do projeto. Araripe informa que, além da reintrodução de sementes tradicionais, também estão sendo inseridas novas culturas com base demandas locais.

Atuação feminina - O trabalho de identificação e o enriquecimento do acervo de novas espécies contou com a ajuda das mulheres nas comunidades. Segundo o coordenador André Araripe, sexo feminino, curiosamente, é que responde pelo papel mais forte nos quilombolas. "É interessante perceber diferenças nos saberes e no preparo dos alimentos entre as comunidades, como o beneficiamento do milho", disse. O projeto é uma iniciativa da Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (SEPPIR), do Governo Federal, com o apoio da Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA).

Fonte: Diario de Pernambuco

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