quarta-feira, 24 de outubro de 2012

POR QUE A FAO E O BERD PROMOVEM UMA AGRICULTURA QUE DESTROI A AGRICULTURA CAMPONESA?


Indignação e medo foi o que nos provocou o artigo com assinatura de José Graziano da Silva, Diretor Geral da FAO, e Suma Chakrabarti, Presidente do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, publicado no dia 6 de setembro pelo jornal Wall Street.  Na publicação, ambas as autoridades convocam aos governos e à sociedade a trabalhar junto com o setor privado considerado motor e líder da alimentação mundial.

Ainda que se refiram especificamente a Europa Oriental e Norte de África, também fazem um chamado a que os investimentos e a concentração (acaparamento) de terras se generalizem em todo mundo.  Como justificativa, qualificam o setor privado como eficiente, dinâmico e o chamam a duplicar seus investimentos em compra de terras, enquanto tratam ao setor camponês e as poucas políticas de proteção da agricultura que ainda existem  como  um  fardo,  um  peso  que  não  permite  avançar   o desenvolvimento agrícola e que deve ser eliminado.  Para isso, chamam aos governos a facilitar os grandes negócios privados na agricultura. Isto dentro do marco de uma convocação a qual o Diretor da FAO José Graziano da Silva qualificou como a maior e mais importante reunião de empresas e  representantes  do  agronegócio  com representantes de instituições públicas e internacionais, incluída a FAO,  realizada na Turquia no dia 13 de setembro recém passado.

Os senhores Graziano da Silva e Chakrabarti fazem no referido artigo uma série de afirmações tendenciosas e que ocultam a real situação da agricultura e da alimentação. Apresentando a Rússia, Ucrânia e Kasaquistão como exemplos do êxito do agronegócio o que tem permitido que estes países passem de ser “as terras abandonadas dos anos 90” para  ser  atualmente  “os  principais  exportadores  de  cereais”.  Não mencionam  em momento algum que as cifras oficiais mostram que nos três países mencionados a produtividade é muito mais alta nas terras em mãos de camponeses que aquelas em mãos do agronegócio.
A agricultura camponesa da Rússia produz mais que a metade do produto agrícola somente com um quarto de área agrícola; na Ucrânia são a fonte de 55% da produção agrícola com somente 16% das terras e no Kazaquistão entregam 73% da produção agrícola com apenas metade da terra. De fato, são os pequenos produtores e, sobretudo as mulheres quem alimentam a população destes países. Tampouco mencionam que quando existem dados oficiais a respeito, como na União Europeia, Colombia e Brasil, mostra-se reiteradamente que a agricultura camponesa é mais eficiente e produtiva que a empresarial, o que tem sido confirmado por diversos estudos na Asia, Africa e America Latina.

Isto demonstra que ao contrario do indicado pelo diretor geral da FAO, quem tem a real capacidade de alimentar a humanidade são as camponesas e os camponeses do mundo inteiro. O avanço do agronegócio, só tem aumentado a pobreza, destruindo a capacidade da agricultura de gerar  emprego,  tem  multiplicado  a  contaminação  e  a  destruição ambiental, e trazido de volta o trabalho escravo e provocado a crise alimentar e climática das últimas décadas.

Para os movimentos sociais e as/os camponeses do mundo não é aceitável e inclusive é inexplicável que o Diretor Geral da Organização para a Agricultura e a Alimentação promova o extermínio da agricultura camponesa e o avanço da concentração e acaparamento de terras. Vemos como muito grave que isto ocorra após três anos de um árduo trabalho em que as organizações colocaram toda sua capacidade e vontade para a construção de diretrizes voluntárias que protejam contra a concentração de terras e depois que o Sr. Graziano da Silva durante sua campanha a diretor geral expressou reiteradamente junto às  organizações  camponesas seu compromisso de promover  e valorizar  a  importância  da  agricultura  camponesa  e  sua  necessária  participação  na produção para alimentação.

Assusta-nos a linguagem ofensiva dos senhores Graziano da Silva e Chakravarti, como quando se referem a “fertilizar as terras com dinheiro” ou “facilitar a vida aos famintos do mundo”. Isto nos leva a colocar em dúvida a capacidade da FAO para fazer seu trabalho com o necessário rigor e independência frente às grandes empresas do agronegócio e assim cumprir  o  mandato  das  Nações  Unidas  de  erradicar  a  fome  e  melhorar  as condições de vida dos povos do campo.

Perguntamos-nos qual é realmente a validade do “Ano Internacional da Agricultura familiar”, se o diretor geral da FAO estima que o que freia a produção agrícola são os “níveis  relativamente  altos  de  proteção,  falta  de  irrigação,   propriedades pequenas e anti econômicas”. Esta visão e a subordinação da FAO aos mecanismos econômicos e aos interesses vorazes dos investidores sem dúvida é que colocam em cheque o trabalho de aproximação entre as organizações camponesas e a FAO que temos feitos nos últimos anos. E nos perguntamos por que a FAO não tem desenvolvido uma proposta de ação real e efetiva que proteja a produção camponesa e familiar como ferramenta fundamental contra a crise alimentar que hoje novamente está enriquecendo os grandes bancos e as transnacionais.  Também nos perguntamos para onde irão as famílias camponesas se este programa de conversão da agricultura centrada em grandes complexos agroindustriais se tornar realidade?

As ameaças não são somente do abandono da missão da FAO. Também é grave que o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento promova e faça investimentos na concentração e acaparamento de terras e a entrega da agricultura ao agronegócio, ainda mais quando hoje tem expandido sua área de trabalho para o norte da Africa.

O que a agricultura e o planeta necessitam atualmente é justamente o contrário do que foi proposto pelos Senhores Graziano da Silva e Chakrabarti. O que a humanidade e os que sofrem fome no mundo necessitam é o sustento das agro-culturas do campo, que constituem as formas de vida de metade da humanidade e tornam possível a agricultura camponesa. Porque é mais eficiente e produtiva, porque ainda assegura pelo menos metade da alimentação mundial e grande parte do trabalho no campo, contribui ainda para esfriar o planeta, e por tudo isto a agricultura camponesa deve ser fortalecida e protegida.

A produção de alimentos e das formas de vida camponesas e indígenas não podem ser destruídas para criar uma nova fonte de mega negócios nas mãos de um grupo ínfimo de pessoas. As terras e territórios devem deixar de ser uma mercadoria e voltar para as mãos dos povos  do  campo,  necessitamos  reformas  agrárias  profundas,  integrais  e efetivas, sem concentração e acaparamento de terras por investidores que somente buscam o lucro. Necessitamos mais comunidades e famílias camponesas e indígenas desenvolvendo sua agricultura com dignidade e respeito e não de agronegócios.


AS CAMPONESAS E OS CAMPONESES ALIMENTAMOS O MUNDO O AGRONEGÓCIO O DOMINA.

La Via Campesina
GRAIN
Les Amis de la Terre International (FoEI)
Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo (CLOC)
MMM - Marche mondiale des femmes
ETC group
Latin American Articulation of Movements Toward ALBA
A.E.L. Asociación Ecológica de Lanús , Argentina
Acción Ecológica, Ecuador
Acción por la Biodiversidad, Argentina
Alianza para la Soberanía Alimentaria de América Latina y El Caribe
Alianza Social Continental
Amigos da Terra Brasil / NAT
Amigos de la Tierra América Latina y el Caribe – ATALC
Amigos de la Tierra Argentina
Amigos de la Tierra España
Anywaa Survival Organisation-ASO
Articulacao Nacional de Agroecologia (ANA), Brasil
ASIAN PEASANT COALITION (APC)
ATTAC – Argentina
Bangladesh Krishok Federation
Biofuelwatch, UK/US
BIOS ARGENTINA
Biowatch South Africa
Bread for all, Switzerland
Bread for the World, Germany
Cátedra Libre de Soberanía Alimentaria de la Universidad Nacional de La Plata, Argentina
Cecilia Avalos
CEIBA-Amigos de la Tierra Guatemala
Censat Agua Viva–Amigos de la Tierra, Colombia
Centro de Protección a la Naturaleza, CeProNat, Argentina
Centro Ecologista Renacer, Argentina
CESTA-Amigos de la Tierra, El Salvador
Charles La Via, Francia
Claudia Korol. Equipo de Educación Popular Pañuelos en Rebeldía, Argentina
CLimat et Justice Sociale de Ginebra, Suiza
COB (Corriente de Organizaciones de Base) LA BRECHA, Argentina
COECOCEIBA-Amigos de la Tierra, Costa Rica
Collectif pour la Défense des Terres Malgaches - TANY
Corporate Europe Observatory
Diálogo 2000 - Jubileo Sur, Argentina
Eastern and Southern Africa small-scale Farmers Forum(ESAFF), Zambia
ECA Watch Austria
Ecologistas en Acción, Estado Español
Ecos de Saladillo, Buenos Aires, ArgentinaEnvironmental Rights Action (ERA)/ Friends of the Earth, Nigeria
Fahamu - Networks for social justice
FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional) - Brasil
Focus on the Global South
Food & Water Europe
Food & Water Watch, EEUU
Foro Ecologista de Paraná, Argentina
Friends of the Earth Australia
Friends of the Earth Canada
Friends of the Earth EWNI
Friends of the Earth Togo
Fundación Mundubat-Mundubat Fundazioa, País Vasco
Gaia Foundation, UKADOLFO de Argentina solamente.
Guamina – Les Amis de la Terre Mali
Glenn Ashton, Director, Ekogaia Foundation, Cape Town, South Africa
Global Forest Coalition
Global Responsibility – Austrian Platform for Development and Humanitarian Aid
GroundWork-Friends of the Earth South Africa
Héloïse CLAUDON, Chargée de mission, Association Combat Monsanto
Ingrid Kossmann, Marcos Paz, Argentina
Instituto de Estudios Ecologistas del Tercer Mundo, Ecuador
Ivan R Artunduaga
JA! Justica Ambiental-Friends of the Earth Mozambique
Jean-Denis Gauthier, France
Kusamala Institute of Agriculture and Ecology [KIAE], Malawi
Les Amis de la Terre France
Local to Global Advocates for Justice
Maan Ystävät-Friends of the Earth Finland
Marcha Mundial de las Mujeres de Perú
Maudesco-Friends of the Earth Mauritius
Milieudefensie-Friends of the Earth Netherlands
Movimiento Madre Tierra-Amigos de la Tierra Honduras
Movimiento Mundial por los Bosques Tropicales (World Rainforest Movement)
Movimiento político SolidaritéS, Ginebra, Suiza
NAPE-Friends of the Earth Uganda
Never Ending Food
Nicolas Sersiron vice président, Cadtm, Francia
NOAH-FoE Denmark's Food and Agriculture Group
Observatorio Latinoamericano de Conflictos Ambientales – OLCA
Otros Mundos AC/Amigos de la Tierra México
Plataforma de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais - Plataforma Dhesca
Brasil
Plataforma Interamericana de Derechos Humanos, Democracia y Desarollo – PIDHDD
Plataforma Rural, Estado Español
Pro Natura - Friends of the Earth Switzerland
Pro Public- FoE Nepal
Re:Common
RECOMA (Red Latinoamericana contra los Monocultivos de Árboles)
Red de Coordinación en Biodiversidad, Costa Rica
Red Latinoamericana de Zurich (RLZ)
Red Manglar Internacional (RMI)
Red Nacional de Acción Ecologista, Argentina
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Brasil
REDES-Amigos de la Tierra, Uruguay
Rettet den Regenwald, Alemania
Salva la Selva, España
SAVIA - Escuela de Pensamiento Ecologista, GuatemalaSilvana Buján, Mar del Plata, Argentina
SOBREVIVENCIA-Amigos de la Tierra Paraguay
Solidaridad Suecia-América Latina (SAL)
Südwind, Austria
Terra de Direitos, Brasil
Union Paysanne (miembro de la región norteamericana de la VC)
Veterinarios sin Fronteras
World Family

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