Em 2009, como tinham fruto estragando
nos terrenos delas, um grupo de mulheres começou a se juntar para preparar
polpas aos sábados, até que perceberam o potencial que tinham em mãos e logo
resolveram criar uma associação. A proximidade com a APACC, através do projeto
Mulheres do Campo, fez com que tomassem conhecimento do Programa de Aquisiçãode Alimentos (PAA) e então corressem atrás da documentação necessária. “O
que colhemos na safra utilizamos mais para o nosso próprio consumo, e nos
demais meses vivemos do que conseguimos vender”, relata dona Catarina Lopes, de
58 anos.
A Associação Agroextrativista dos
Moradores de Ajó (AMA), em Cametá, conta hoje com 23 associadas/os, sendo 17
mulheres e 06 homens. Com base na agroecologia e na economia solidária, várias
atividades produtivas como criação de animais, plantio de frutas e verduras são
parte do diversificado leque de possibilidades de geração de renda que a
comunidade experimenta. Uma ação que começou quase como recreação de mulheres,
graças à parceria com a APACC, através do projeto Mulheres do Campo (MdC) hoje
é fundamental para a comunidade e para o município.
“De setembro pra cá, desde que
recebemos cadernetas de anotação do projeto Mulheres do Campo, anotamos tudo
que a gente produziu.
Organização, conscientização sobre meio ambiente e visão
foi que de melhor adquirimos com essa parceria”, argumentou Catarina. Mãe de
cinco filhos, os tempos de aperto passaram para sempre, segundo ela. “Hoje
comemos melhor, temos mais saúde e mais esperança. Não podemos querer mais que
isso”, concluiu.
OUTRA LÓGICA
Em qualquer grande empreendimento no
campo, a lógica do agronegócio é diminuir a perda da plantação para pragas com
o menor custo possível. Essa regra custo/benefício, porém, acarreta em males à
saúde humana direta e indiretamente. A terra fica prejudicada, dependendo do
manejo utilizado, há desmatamento e queimada, o que afeta não só o solo, mas acaba com as
nascentes, e consequentemente mata igarapés e rios. Tudo isso é algo que não se
vê na plantação da AMA. Não que não se combatam as pragas, não que não haja
cultivo da terra, mas tudo isso não é feito apenas visando o lucro; visa-se o
lucro, mas de uma forma que as pessoas, os animais e a grande mãe Gaya também
sejam beneficiados.
O tempo na vida campesina é outro,
comparado ao caos urbano que assola as grandes cidades. É nesse ritmo que dona
Catarina mostra a plantação de verduras, todas muito verdinhas, cultivadas com
o carinho de mulher.
Curiosamente, a imagem das mulheres liderando a
agroecologia, que visa não só proteger, mas recuperar áreas degradadas, lembra
um pouco o que descrevera o filósofo alemão Friedrich Engels em “A Origem da
Família”, onde discute que, quando as sociedades primitivas eram nômades, a
liderança era exercida pelas mulheres. Até a figura divida era feminina, porque são as mães que geram a vida. Nessa época prevalecia um poder "com". Depois
houve domínio de técnicas, das terras, surgiram cercas e a prevalência do homem sobre os
outros e as outras.
Esse tempo do patriarcado estabeleceu que tudo que estivesse sob o homem era coisa, utensílio, assim como as mulheres, que foram limitadas ao papel do silêncio, da obediência, de consorte. Portanto, o
simples gesto de cuidar da terra, para que ela ofereça o que há de melhor para
filhos, filhas, companheiros e mantenha o equilíbrio, a partir do protagonismo de Catarina e suas
amigas na comunidade de Ajó, faz com que séculos de opressão contra a humanidade e contra a terra
ganhem um contraponto.
Nesse sentido, as mulheres da AMA propõe para Cametá e para
a Amazônia outras relações, não verticais, mas horizontais, não retangulares, e sim circulares.
INFORMAÇÕES ESPECIAIS
Um dos mercados
acessado pelas famílias da comunidade é o mercado da cidade de Cametá com
destaque para a feira livre e feiras de economia solidária local que oportuniza
a comercialização direta de produtos para consumidores da sede do município,
além deste mercado, também a venda para supermercados e mercearias da cidade
acontece em certo grau, porém, percebe-se que também não remunera os produtos
de maneira satisfatória, no caso das mercearias. Vale destacar que uma
importante estratégia tem sido conduzida pela associação, que o mercado
institucional por meio do programa de aquisição de alimentos (PAA), neste
sentido a associação já executou um projeto no valor de R$ 15.000,00 e no
momento está em período de negociação para um novo projeto a ser executado no
ano de 2013.
parabéns a todas as guerreiras!
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