sexta-feira, 8 de março de 2013

FELIZ DIA DAS MULHERES DO CAMPO!


Por: Eraldo Paulino

Através da agroecologia, as mulheres vêm retomando papel de liderança retirada delas por milênios de patriarcado e gradativamente são introduzidas novas relações políticas, com a família, com a natureza e com o próprio corpo a partir da liderança feminina no campo. Um dos exemplos dessa experiência foi vivida no Pará, de 2010 a 2012 no projeto “Mulheres do Campo”, realizado em 19 municípios pela Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes (APACC), na região do Baixo Tocantins, em parceria com o Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense (MMNEPA), na região contida no nome da entidade, com financiamento da União Europeia (EU) e Pão Para o Mundo (PPM).

Nos primórdios da história da humanidade no ocidente, as sociedades eram nômades. Essas mulheres e esses homens do campo viviam um tempo de profunda harmonia e respeito com Gaya, sob a liderança das mulheres. Consequentemente o culto ao sagrado reverenciava a figura do feminino, porque as mulheres geram a vida. Vários símbolos dessa época resgatados por arqueólogos fazem menção ao útero, à vulva e outros elementos típicos da mulher. Nessa época, segundo estudos antropológicos, prevalecia uma relação horizontal, um poder “Com”, até que homens dominaram técnicas, subjugaram outras famílias, criaram estados e impérios e relegaram à mulher o papel de consortes, donas de casa, pessoas do silêncio; essa relação vertical também afetou a natureza, pois o cultivo da terra passou a ser colocada sob os ideais de poder, gerando o desequilíbrio alarmante da atualidade.

Quando as mulheres retomam essa liderança, na agroecologia, na economia solidária, e em espaços de poder, é como se parte dessa história que foi interrompida pela ganancia do patriarcado fosse retomada, produzindo resultados que beneficia a todas e todos, e ao meio ambiente.

 

RESULTADOS

Em números, o projeto que tinha como foco saúde da mulher, maior participação política, agroecologia e segurança alimentar, conseguiu resultados como de 94,44% e 86,11% de participação das mulheres em organizações sociais no Baixo Tocantins e no Nordeste Paraense, respectivamente após três anos de projeto. Nessas, seguindo a mesma ordem, 57,41% e 77,61% em cargos de direção.

Mas o que mais encanta não são os números, e sim os depoimentos de quem experimenta agroecologia sob o protagonismo da mulher. “Antigamente era triste olhar pras crianças da nossa comunidade vê-las todas com a barriga grande, porque a gente basicamente plantava só mandioca pra vender farinha, e nossa base alimentar não era nossa prioridade. Hoje em dia, quando a gente vai plantar, nos preocupamos com o meio ambiente e com o bem estar da nossa comunidade, por isso a gente planta coisas que servem ao nosso próprio alimento e plantas medicinais que servem pra nossa saúde”, relatou Francisca da Silva Gama, de 54 anos, membro da comunidade quilombola São José de Açaiteua.

O marido dela, Geraldo Oliveira Gama, de 65 anos, comentou com carinho o que significa ser liderado pela esposa, enquanto conta tudo o que a comunidade conquistou graças à agroecologia. “Quando a mulher começou a participar do movimento de mulheres, ela  descobriu formas de comercialização dos produtos que permitem hoje a gente plantar com a certeza de que vamos ter como vender. A gente olha hoje pro nosso quintal, e percebe ele produtivo, e olha pro nosso lote, e percebe que não fazemos mais hoje queimadas pra plantar. Me orgulho de ter uma esposa atuante”, pontua.

“O que colhemos na safra utilizamos mais para o nosso próprio consumo, e nos demais meses vivemos do que conseguimos vender”, relata dona Catarina Lopes, de 58 anos, da Associação Agroextrativista dos Moradores de Ajó, em Cametá – PA. Nessa comunidade, como em todas as que foram apoiadas pelo projeto, percebe-se que muitos lotes e muitos quintais estão sendo reflorestados ou preservados porque as pessoas foram convencidas de que é possível ter lucro e viver melhor sem perder o verde e prejudicar as matas ciliares.

“Nesse projeto conquistamos muito mais do que resultados numéricos, conquistamos a experiência num caminho que percebemos ainda mais aberto a partir do que foi possível fazer. Tenho certeza que o exemplo dado por essas mulheres cativa outras na comunidade, e assim podemos sonhar ainda mais com um futuro com maior segurança alimentar, maior participação e saúde da mulher, e uma outra lógica no campo, que não a do agronegócio patriarcal, e sim da agroecologia, que tem muito de feminista”, analisou Rita Teixeira, uma das coordenadoras do projeto.

“As mulheres do mundo que experimentam a agroecologia de forma protagonista não plantam somente na terra, mas nos corações e mentes das pessoas, pois são mulheres do cuidado, não só com a terra, mas com a humanidade”, avaliou Nilde Souza, do Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense.

Um comentário:

  1. A iniciativa dessas mulheres em agroecologia é de extrema importancia para o desenvolvimento sustentável.

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