Em 1988 o
Brasil vivia uma faze de redemocratização, após mais de 20 anos em regime
ditatorial. Em março desse ano trabalhadoras/es rurais o tomaram de volta para
si o sindicato rural, no então município de Irituia. Foi-se uma gestão aliada
aos interesses dos poderosos e governantes, e entrou uma nova gestão de
trabalhadoras e trabalhadores rurais. Já em maio desse ano, porém, houve a
emancipação de Mãe do Rio, que antes era conhecida como “48”, referência à quilometragem
da rodovia Belém-Brasília onde o centro da cidade é localizado. Já na nova cidade surgiu a Associação de
Trabalhadoras/es Rurais Julho Marinho, homenagem a um trabalhador rural de
luta, e sinal de compromisso com a genuína causa da agricultura familiar.
Os anos
mais difíceis dessa época foi superar os prejuízos causados pela falta de visão
do estratégica do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), que
frustrou as/os associadas/os, porque garantia investimentos para que a terra
fosse semeada, mas não dava condições de venda, então esses produtos acabavam
estragando e dando prejuízo. Por conta disso a associação encerrou as
atividades em meados de 2000, só voltando em 2009, um ano antes do projeto
Mulheres do Campo (MdC), fundamental para a atual próspera fase delas/es.
“Nós
fazíamos relação direta com a ADESC de Santa Maria para vender alguns de nosso
produtos, principalmente o mel. Até que eles nos disseram que teríamos que
criar nossa própria organização. De início achamos isso ruim, mas foi
fundamental para que hoje tenhamos retomado a associação”, se orgulha a jovem
presidente dessa nova fase, Isadilva Vieira da Costa, de 24 anos, filha do
recém-empossado secretário de agricultura de Mãe do Rio, Isaías Ferreira
Castro, de 54 anos.
Foi
graças à influência do MMNEPA que decidimos retomar a associação que já existia
ao invés de criar outra. Foi uma trajetória difícil porque recomeçamos com
propósito de dar suporte jurídico para que fosse possível acessar Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE), mas muitas/os ainda viviam a ressaca do FNO, que deu recurso para as/os
produtores cultivarem de 1996 a 2000, mas não possibilitou a comercialização,
por isso muita coisa estragou.
“Graças
ao MdC que nos deu instrução e coragem, hoje olhamos pra frente e enxergamos um
horizonte cada vez melhor. Com meu pai como secretário, a associação agora só
depende dela mesma para acessar o PNAE e continuar acessando o PAA. Assim a/o
agricultor cultiva sabendo que venderá. Não há coisa melhor que isso”,
argumentou Isadilva.
TEMPO DE
CUIDADO
Maria do
Céu de Santos Lima, de 59 anos, cuidava da plantação e da colheita junto com as
filhas, na época do FNO. Eram tempos de muito cansaço, mas regados de uma esperança
que logo virou frustração quando todo o esforço resultou em muitas frutas
estragadas, por não ter para quem vender. Além de novos tempos de
comercialização, “Do Céu”, como é carinhosamente chamada, hoje se orgulha de
que o lote dela não só produz mais, como a terra está cada vez mais verde.
“Eu olho
pro lado e vejo cada dia mais bonito o que antes era derrubado pra ser plantado
apenas algumas coisas. Claro que hoje ganhamos mais e temos perspectiva de
ganhar mais dinheiro, mas nada compra a qualidade de vida que hoje temos,
graças à agroecologia que implantamos”, comemorou.
Com
sorriso no rosto, e olhar de nítida esperança, Francisco Chagas Santos, de 64
anos, que desde moleque vive os ares do campo, confessou que graças às
perspectivas que ganhou através da participação junto às Mulheres do Campo,
hoje, como nunca, ele consegue perceber um horizonte maior. “É ótimo saber que
o secretário de agricultura saiu de nossa luta, e que temos condições de
plantar mais. Pra quem vive no campo,
não há coisa melhor do que viver do que plantamos”, resumiu. Ele também comentou que o cuidado com a terra, aprendido graças à aproximação com as mulheres do MMNEPA, é hoje certeza de que esse avanço não tirará o direito à terra das gerações que virão.
INFORMAÇÕES
ADICIONAIS:
Isaias
Ferreira deCastro, de 54 anos, é o novo secretário de agricultura da prefeitura
de Mãe do Rio.
Quando o
MdC começou a apoiar a associação, a renda anual familiar das oito famílias que
participavam era de R$ 4.435,00 (R$ 369,58 mensal). Eram só essas famílias
porque houve natural demora para se conseguir a documentação, e ressaca da
última experiência com o FNO afastou muitas/os. Já em 2012, último ano do MdC, a
renda anual familiar das 18 famílias que participam é de R$ 8.346,66 (R$ 695,55
mensal), sem contar os benefícios de programas de distribuição de renda do
Governo Federal.