quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Frutos das Mulheres do Campo: Associação de Trabalhadoras/es Rurais Julho Marinho

Foto tirada no terreno de "Do Céu", que está abraçada ao secretário, Isaías, que está ao centro, de vermelho, também abraçado a Carimbó. A jovem presidente da associação, Isadilva, está de short azul e camiseta cinza.

Em 1988 o Brasil vivia uma faze de redemocratização, após mais de 20 anos em regime ditatorial. Em março desse ano trabalhadoras/es rurais o tomaram de volta para si o sindicato rural, no então município de Irituia. Foi-se uma gestão aliada aos interesses dos poderosos e governantes, e entrou uma nova gestão de trabalhadoras e trabalhadores rurais. Já em maio desse ano, porém, houve a emancipação de Mãe do Rio, que antes era conhecida como “48”, referência à quilometragem da rodovia Belém-Brasília onde o centro da cidade é localizado. Já na nova cidade surgiu a Associação de Trabalhadoras/es Rurais Julho Marinho, homenagem a um trabalhador rural de luta, e sinal de compromisso com a genuína causa da agricultura familiar.

Os anos mais difíceis dessa época foi superar os prejuízos causados pela falta de visão do estratégica do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), que frustrou as/os associadas/os, porque garantia investimentos para que a terra fosse semeada, mas não dava condições de venda, então esses produtos acabavam estragando e dando prejuízo. Por conta disso a associação encerrou as atividades em meados de 2000, só voltando em 2009, um ano antes do projeto Mulheres do Campo (MdC), fundamental para a atual próspera fase delas/es.

“Nós fazíamos relação direta com a ADESC de Santa Maria para vender alguns de nosso produtos, principalmente o mel. Até que eles nos disseram que teríamos que criar nossa própria organização. De início achamos isso ruim, mas foi fundamental para que hoje tenhamos retomado a associação”, se orgulha a jovem presidente dessa nova fase, Isadilva Vieira da Costa, de 24 anos, filha do recém-empossado secretário de agricultura de Mãe do Rio, Isaías Ferreira Castro, de 54 anos.

Foi graças à influência do MMNEPA que decidimos retomar a associação que já existia ao invés de criar outra. Foi uma trajetória difícil porque recomeçamos com propósito de dar suporte jurídico para que fosse possível acessar Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), mas muitas/os ainda viviam a ressaca do FNO, que deu recurso para as/os produtores cultivarem de 1996 a 2000, mas não possibilitou a comercialização, por isso muita coisa estragou.

“Graças ao MdC que nos deu instrução e coragem, hoje olhamos pra frente e enxergamos um horizonte cada vez melhor. Com meu pai como secretário, a associação agora só depende dela mesma para acessar o PNAE e continuar acessando o PAA. Assim a/o agricultor cultiva sabendo que venderá. Não há coisa melhor que isso”, argumentou Isadilva.

TEMPO DE CUIDADO
Maria do Céu de Santos Lima, de 59 anos, cuidava da plantação e da colheita junto com as filhas, na época do FNO. Eram tempos de muito cansaço, mas regados de uma esperança que logo virou frustração quando todo o esforço resultou em muitas frutas estragadas, por não ter para quem vender. Além de novos tempos de comercialização, “Do Céu”, como é carinhosamente chamada, hoje se orgulha de que o lote dela não só produz mais, como a terra está cada vez mais verde.

“Eu olho pro lado e vejo cada dia mais bonito o que antes era derrubado pra ser plantado apenas algumas coisas. Claro que hoje ganhamos mais e temos perspectiva de ganhar mais dinheiro, mas nada compra a qualidade de vida que hoje temos, graças à agroecologia que implantamos”, comemorou.

Com sorriso no rosto, e olhar de nítida esperança, Francisco Chagas Santos, de 64 anos, que desde moleque vive os ares do campo, confessou que graças às perspectivas que ganhou através da participação junto às Mulheres do Campo, hoje, como nunca, ele consegue perceber um horizonte maior. “É ótimo saber que o secretário de agricultura saiu de nossa luta, e que temos condições de plantar mais. Pra quem vive no campo, não há coisa melhor do que viver do que plantamos”, resumiu. Ele também comentou que o cuidado com a terra, aprendido graças à aproximação com as mulheres do MMNEPA, é hoje certeza de que esse avanço não tirará o direito à terra das gerações que virão.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS:
Isaias Ferreira deCastro, de 54 anos, é o novo secretário de agricultura da prefeitura de Mãe do Rio.
Quando o MdC começou a apoiar a associação, a renda anual familiar das oito famílias que participavam era de R$ 4.435,00 (R$ 369,58 mensal). Eram só essas famílias porque houve natural demora para se conseguir a documentação, e ressaca da última experiência com o FNO afastou muitas/os. Já em 2012, último ano do MdC, a renda anual familiar das 18 famílias que participam é de R$ 8.346,66 (R$ 695,55 mensal), sem contar os benefícios de programas de distribuição de renda do Governo Federal.

Frutos das Mulheres do Campo:Associação Agroextrativista dos Moradores de Ajó (AMA)


Em 2009, como tinham fruto estragando nos terrenos delas, um grupo de mulheres começou a se juntar para preparar polpas aos sábados, até que perceberam o potencial que tinham em mãos e logo resolveram criar uma associação. A proximidade com a APACC, através do projeto Mulheres do Campo, fez com que tomassem conhecimento do Programa de Aquisiçãode Alimentos (PAA) e então corressem atrás da documentação necessária. “O que colhemos na safra utilizamos mais para o nosso próprio consumo, e nos demais meses vivemos do que conseguimos vender”, relata dona Catarina Lopes, de 58 anos.

A Associação Agroextrativista dos Moradores de Ajó (AMA), em Cametá, conta hoje com 23 associadas/os, sendo 17 mulheres e 06 homens. Com base na agroecologia e na economia solidária, várias atividades produtivas como criação de animais, plantio de frutas e verduras são parte do diversificado leque de possibilidades de geração de renda que a comunidade experimenta. Uma ação que começou quase como recreação de mulheres, graças à parceria com a APACC, através do projeto Mulheres do Campo (MdC) hoje é fundamental para a comunidade e para o município.
“De setembro pra cá, desde que recebemos cadernetas de anotação do projeto Mulheres do Campo, anotamos tudo que a gente produziu.

Organização, conscientização sobre meio ambiente e visão foi que de melhor adquirimos com essa parceria”, argumentou Catarina. Mãe de cinco filhos, os tempos de aperto passaram para sempre, segundo ela. “Hoje comemos melhor, temos mais saúde e mais esperança. Não podemos querer mais que isso”, concluiu.

OUTRA LÓGICA
Em qualquer grande empreendimento no campo, a lógica do agronegócio é diminuir a perda da plantação para pragas com o menor custo possível. Essa regra custo/benefício, porém, acarreta em males à saúde humana direta e indiretamente. A terra fica prejudicada, dependendo do manejo utilizado, há desmatamento e queimada, o que afeta não só o solo, mas acaba com as nascentes, e consequentemente mata igarapés e rios. Tudo isso é algo que não se vê na plantação da AMA. Não que não se combatam as pragas, não que não haja cultivo da terra, mas tudo isso não é feito apenas visando o lucro; visa-se o lucro, mas de uma forma que as pessoas, os animais e a grande mãe Gaya também sejam beneficiados.

O tempo na vida campesina é outro, comparado ao caos urbano que assola as grandes cidades. É nesse ritmo que dona Catarina mostra a plantação de verduras, todas muito verdinhas, cultivadas com o carinho de mulher. 

Curiosamente, a imagem das mulheres liderando a agroecologia, que visa não só proteger, mas recuperar áreas degradadas, lembra um pouco o que descrevera o filósofo alemão Friedrich Engels em “A Origem da Família”, onde discute que, quando as sociedades primitivas eram nômades, a liderança era exercida pelas mulheres. Até a figura divida era feminina, porque são as mães que geram a vida. Nessa época prevalecia um poder "com". Depois houve domínio de técnicas, das terras, surgiram cercas e a prevalência do homem sobre os outros e as outras.

Esse tempo do patriarcado estabeleceu que tudo que estivesse sob o homem era coisa, utensílio, assim como as mulheres, que foram limitadas ao papel do silêncio, da obediência, de consorte. Portanto, o simples gesto de cuidar da terra, para que ela ofereça o que há de melhor para filhos, filhas, companheiros e mantenha o equilíbrio, a partir do protagonismo de Catarina e suas amigas na comunidade de Ajó, faz com que séculos de opressão contra a humanidade e contra a terra ganhem um contraponto.

Nesse sentido, as mulheres da AMA propõe para Cametá e para a Amazônia outras relações, não verticais, mas horizontais, não retangulares, e sim circulares.

INFORMAÇÕES ESPECIAIS
Um dos mercados acessado pelas famílias da comunidade é o mercado da cidade de Cametá com destaque para a feira livre e feiras de economia solidária local que oportuniza a comercialização direta de produtos para consumidores da sede do município, além deste mercado, também a venda para supermercados e mercearias da cidade acontece em certo grau, porém, percebe-se que também não remunera os produtos de maneira satisfatória, no caso das mercearias.  Vale destacar que uma importante estratégia tem sido conduzida pela associação, que o mercado institucional por meio do programa de aquisição de alimentos (PAA), neste sentido a associação já executou um projeto no valor de R$ 15.000,00 e no momento está em período de negociação para um novo projeto a ser executado no ano de 2013.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

SEMINÁRIO FINAL DO PROJETO MULHERES DO CAMPO


Foi realizado nos dias 20 e 21/02/12 o Seminário Final do projeto Mulheres do Campo (MdC) no hotel Beira Rio, no bairro do Guamá em Belém-PA. Cerca de 70 representantes das comunidades atendidas pelo projeto vindas do Baixo Tocantins, sob coordenação da Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes(APACC)  e do  nordeste paraense, onde o projeto foi executado pelo Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense (MMNEPA) apresentaram da forma que melhor acharam o que de melhor puderam colher e quanto ainda conseguirão plantar a partir do que vivenciaram no MdC.

“Essas mulheres não plantam somente na terra, mas nos corações e mentes, pois são mulheres do cuidado, não só com a terra, mas com a humanidade. A experiência desse projeto faz parte de um universo de experiências voltadas para as mulheres do campo e da cidade que sempre produzem bons resultados”, comentou Nilde Souza, do Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense.

Além do GEPEM, também prestigiaram o seminário representantes das seguintes organizações/ entidades: UCODEP, EMATER, FAOR, Unipop, Canal Futura, SÓDIREITOS, DFA/ MDA, IEB, GIZ e GEPEM, além de sindicatos rurais, organizações da sociedade civil representantes de órgãos e conselhos municipais das cidades atendidas, como sinal de reconhecimento dos passos percorridos.

PARCERIA
“Foi a primeira vez que o MMNEPA fez trabalho em parceria com a APACC. Foi um aprendizado que não foi muito fácil. Pela nossa inexperiência tivemos algumas dificuldades na elaboração do projeto, mas queremos aqui partilhar muito mais que os resultados dessa experiência, mas o caminho que percebemos aberto a partir do que foi possível fazer, com muito suor e empenho”, argumentou Rita Teixeira, coordenadora do MdC pelo MMNEPA, na mesa de abertura do seminário.



Da mesma forma, Franquismar Maciel de Souza, coordenador da APACC de Cametá, comentou sobre o que cada entidade que co-realizou o projeto ganharam como experiência. “Cada uma organização ofertou o melhor que tinha. Nós da APACC mais na área da agroecologia e o MMNEPA com mais acúmulo no debate sobre questões de gênero. Dessa forma, acredito que foi uma experiência mais do que válida”, avaliou.




PRESTANDO CONTAS
Agroecologia, segurança alimentar, saúde e maior participação política da mulher foram os quatro eixos que nortearam o MdC, que foi realizado desde 2010 em 19 municípios nas mesorregiões do Baixo Tocantins e Nordeste Paraense. Mas a tônica do seminário não foi apresentação de dados, nem tão pouco de relatórios. Por isso, logo após a mesa de abertura mulheres e homens do campo dividiram-se nos quatro eixos do projeto para discutirem e depois expor como quisessem as percepções que tiveram do MdC naquele referido eixo.

E se viu muita criatividade e entusiasmo em mensagens que basicamente falavam de gratidão, mas também de compromisso com a continuidade. “Espero que tudo isso agora possa continuar e avançar daqui pra frente”, resumiu a jovem Ellen de Souza, de Salinópolis.

Depois foi realizada noite cultural, durante jantar com convidaddas/os, onde foi possível dançar carimbo e músicas de raiz paraenses. Em seguida foi realizada pequena feira no Hall de entrada do hotel, onde foram expostos alguns produtos das comuidades.

No último dia foi apresentado o catálogo virtual de produtos de alguns empreendimentos solidários selecionados e foi anunciado que 2 mil exemplares de livreto contendo 10 experiências selecionadas (cinco de cada uma) das regiões do projeto serão distribuídos para as comunidades e organizações parceiras no mês de março.

Finalmente, a partir do que foi exposto pelas/os participantes, foram coletadas intenções das/os camponesas/es que serão sintetizadas em uma carta de intenções que será socializada com toda a sociedade e repassada a órgãos públicos relacionados.

Foto: Celso Rodrigues
 
Foto: Celso Rodrigues
Foto: Celso Rodrigues
 
 
 
 
 
Fotos: Celso Rodrigues
 
 
 
 
 
Foto: Celso Rodrigues
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Foto: Celso Rodrigues
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foto: Celso Rodrigues
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Foto: Celso Rodrigues
Foto: Celso Rodrigues
Foto: Celso Rodrigues
 
 
 
 
Foto: Celso Rodrigues
Foto: Celso Rodrigues
Foto: Celso Rodrigues
Foto: Celso Rodrigues